Uma nova geração de executivos homossexuais começa a tratar abertamente uma questão ainda vista como tabu no mundo corporativo - e essa é uma boa notícia também para as empresas
Lucas Rossi - Exame
Germano Lüders
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Há três anos, o paulista Ricardo Yuki recebeu a proposta mais desafiadora de sua carreira. Após quase uma década de trabalho na subsidiária brasileira do Citibank, ele estava prestes a assumir um cargo de responsabilidade global na área de risco do banco. Sob seu comando estaria uma equipe de mais de 200 pessoas espalhadas por quatro continentes. Nesses casos, os executivos costumam ser transferidos para a matriz americana e têm todo o apoio necessário para a mudança. Entre os benefícios, os cônjuges recebem consultoria de recolocação profissional e auxílio para obter o visto.
Para Yuki, não seria diferente - se não fosse por um entrave
burocrático. Ele morava havia mais de um ano com o namorado, um executivo da Alpargatas, e, apesar de o casamento entre pessoas do mesmo sexo já ter sido aprovado tanto no Brasil como no estado de Nova York, para onde deveriam se mudar, não foi possível obter o visto para ele. Isso porque a permissão de moradia é regulamentada por uma lei federal nos Estados Unidos. A saída, decidida de comum acordo entre o executivo e a empresa, foi permanecer em São Paulo e a cada 15 dias viajar para os escritórios do Citi em outros países.
Em sua mensagem de apresentação à nova equipe, Yuki explicou sem rodeios sua distância da sede - deixou claro, portanto, que é gay. "Iria conviver com aquelas pessoas por muito tempo", diz. "Era melhor falar logo". Hoje, ele é superintendente da área de risco do Citi no Brasil.
Histórias como a de Yuki, que ao longo da carreira nunca escondeu sua orientação sexual, ainda são minoria. Não há dados oficiais sobre a população brasileira que faz parte do grupo LGBT (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). O censo de 2010 revelou que, na época em que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não era permitido no país, 60.000 casais homossexuais declararam viver juntos.
Já um estudo de 2011 do Instituto Williams, da escola de direito da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, analisou nove pesquisas em cinco países - entre eles Canadá, Reino Unido e Austrália - para quantificar o público LGBT. A conclusão foi que a população homossexual pode chegar a 6% - o Brasil, diga-se, não fazia parte da amostra. Apesar dessa imprecisão, o que se sabe é que muitos se mantêm anônimos. Apenas três em cada dez executivos gays falam abertamente sobre sua orientação sexual entre os colegas de trabalho no Brasil, segundo pesquisa da consultoria holandesa especializada no público LGBT Out Now feita com 12 000 profissionais em dez países. Trata-se de um índice baixo - à frente, é verdade, de países como Alemanha e Itália, mas longe do cenário ideal. Esse é um daqueles casos em que a fotografia e o filme contam histórias diferentes. A imagem parada traz razões para desânimo; mas é inegável que o ambiente corporativo, aos poucos, vai se adaptando às mudanças impostas por uma sociedade mais aberta à diversidade. Uma nova geração de executivos começa a trazer à tona uma discussão até alguns anos atrás inexistente no dia a dia das empresas. Eles se sentem seguros para dizer: "Chefe, sou gay".
Para Yuki, não seria diferente - se não fosse por um entrave
burocrático. Ele morava havia mais de um ano com o namorado, um executivo da Alpargatas, e, apesar de o casamento entre pessoas do mesmo sexo já ter sido aprovado tanto no Brasil como no estado de Nova York, para onde deveriam se mudar, não foi possível obter o visto para ele. Isso porque a permissão de moradia é regulamentada por uma lei federal nos Estados Unidos. A saída, decidida de comum acordo entre o executivo e a empresa, foi permanecer em São Paulo e a cada 15 dias viajar para os escritórios do Citi em outros países.
Em sua mensagem de apresentação à nova equipe, Yuki explicou sem rodeios sua distância da sede - deixou claro, portanto, que é gay. "Iria conviver com aquelas pessoas por muito tempo", diz. "Era melhor falar logo". Hoje, ele é superintendente da área de risco do Citi no Brasil.
Histórias como a de Yuki, que ao longo da carreira nunca escondeu sua orientação sexual, ainda são minoria. Não há dados oficiais sobre a população brasileira que faz parte do grupo LGBT (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). O censo de 2010 revelou que, na época em que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não era permitido no país, 60.000 casais homossexuais declararam viver juntos.
Já um estudo de 2011 do Instituto Williams, da escola de direito da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, analisou nove pesquisas em cinco países - entre eles Canadá, Reino Unido e Austrália - para quantificar o público LGBT. A conclusão foi que a população homossexual pode chegar a 6% - o Brasil, diga-se, não fazia parte da amostra. Apesar dessa imprecisão, o que se sabe é que muitos se mantêm anônimos. Apenas três em cada dez executivos gays falam abertamente sobre sua orientação sexual entre os colegas de trabalho no Brasil, segundo pesquisa da consultoria holandesa especializada no público LGBT Out Now feita com 12 000 profissionais em dez países. Trata-se de um índice baixo - à frente, é verdade, de países como Alemanha e Itália, mas longe do cenário ideal. Esse é um daqueles casos em que a fotografia e o filme contam histórias diferentes. A imagem parada traz razões para desânimo; mas é inegável que o ambiente corporativo, aos poucos, vai se adaptando às mudanças impostas por uma sociedade mais aberta à diversidade. Uma nova geração de executivos começa a trazer à tona uma discussão até alguns anos atrás inexistente no dia a dia das empresas. Eles se sentem seguros para dizer: "Chefe, sou gay".
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